Gal Gadot estampa a capa da revista estadunidense Vanity Fair, edição de novembro. Confira a seguir a entrevista traduzida pela equipe do Gal Gadot Brasil.
Gal Gadot é única e um caso a parte
Três anos atrás, Gal Gadot abalou o mundo como a Mulher-Maravilha. Na sequência, ela volta para detonar ainda mais em nome do feminismo.
Por Nancy Jo Sales
Fotografia por Dudi Hasson
Estilo por Noa Rennert
Criando Ondas
Gal Gadot está relaxando no pátio dos fundos de sua casa em Tel Aviv. Este espaço ao ar livre, cercado por um muro de pedra e árvores pendentes, é onde ela diz que ela gosta de passar um tempo “com ela mesma”, depois que suas filhas, Alma, de oito anos, e Maya, de três, adormecem. Ano passado, quando Gadot e seu marido, Jaron Varsano, acharam que Alma tinha idade suficiente, eles mostraram a ela o filme que fez de sua mãe uma estrela: Mulher-Maravilha.
“Ela ficou muito animada“, diz Gadot, “mas também não conseguia deixar de ver Ima” – mãe em hebraico – “lutando contra os caras maus. Ela disse, ‘Eu não consigo assistir! Apenas passe para frente!’ Ela não conseguia aguentar. Então, pulamos as partes assustadoras. Mas o resto, ela amou e tem orgulho disso.”
Alma, no entanto, não é fã da Bela Adormecida. “Ela disse: ‘Não gosto da Bela Adormecida’“, diz Gadot, “e perguntei por quê, ela é uma princesa da Disney; quem não gosta de uma princesa da Disney? E ela disse: ‘Porque tudo que ela faz é dormir e o príncipe vem e a beija e daí é o fim. Ela não fez nada’. E Jaron e eu estávamos olhando para ela, e ficamos tipo, que perspectiva saudável. E é tão verdade, ela não fez nada.”
Lembro-me de quando fui ver Mulher-Maravilha no cinema, em Nova York, logo após sua estreia, em junho de 2017, com todos os gritos e aplausos das mulheres e meninas na plateia. Em certo momento, uma mulher sentada ao meu lado agarrou minha mão em uma demonstração espontânea de irmandade. Logo se seguiram relatos de reações semelhantes por todo o país e pelo mundo: o público batendo palmas, chorando, vestindo seus Braceletes Dourados e segurando seus laços em público e nas redes sociais. Uma postagem viral no Tumblr de uma professora de jardim de infância (que Gadot compartilhou) relatou uma lista de coisas inspiradoras que aconteceram em sua sala de aula desde o lançamento do filme: tanto meninos como meninas queriam imitar a força e a bondade da Mulher-Maravilha e salvar o mundo, como ela fez.
A Mulher-Maravilha foi um fenômeno. Vindo, como veio, meses após a eleição de um abusador reconhecido na presidência dos Estados Unidos, parecia um bálsamo. E Gadot parecia a encarnação perfeita de uma amada super-heroína, chegando a tempo para uma onda feminista (seu nome, Gal, na verdade significa onda em hebraico), iniciada pela histórica Marcha Internacional das Mulheres, em janeiro de 2017.
“O que entendo da Mulher-Maravilha é que ela é o amor encarnado: feroz, forte, compassiva e durona. Essa é a Gal.” Chris Pine
Hoje, com Mulher-Maravilha de 1984 previsto para chegar aos cinemas em dezembro, Gadot está animada para que o público veja o próximo episódio da história da Mulher-Maravilha. “Acho que o primeiro filme foi o nascimento de uma heroína“, diz ela, falando comigo no Zoom, “e, desta vez, queríamos ir mais a fundo, de certa maneira. Trata-se mais do perigo da ganância e acho que isso é muito relevante para a era em que vivemos hoje. Parece que todos estão em uma corrida por mais e quando você consegue o que deseja, há um novo limite e qual é o preço? E nós nos perdemos nesta maratona louca?”
Ela está usando um vestido preto sem mangas da Helmut Lang com uma gola assimétrica, brincos de diamante, nada de maquiagem. Em uma conversa abordando temas feministas, é difícil saber dizer como, ou se, ela é bonita. Ela mesma não parece muito interessada nisso. Na adolescência, ela trabalhou no Burger King em vez de aceitar os empregos de modelo que ofereciam a ela. Ela ficou chocada quando ganhou o concurso de Miss Israel em 2004 (sua mãe e uma amiga a inscreveram por impulso) e decidiu que concursos de beleza não eram para ela. Ela dificultou o concurso de Miss Universo 2004, ela já contou em entrevistas, sendo não cooperativa e vestindo roupas horríveis.
“Oh, meu Deus“, ela diz, rindo, quando eu toco no assunto. “Paula Abdul foi uma das juradas, ela me perguntou algo e eu fiquei tipo” – intensificando seu sotaque israelense – “‘Não falo inglês, desculpe.’ Fiz de tudo para ter certeza de que não daria certo.”
Na cena de abertura de Mulher-Maravilha de 1984, a versão infantil da princesa guerreira Diana Prince (interpretada por Lilly Aspell, de 12 anos, uma saltadora premiada na vida real) está em uma longa competição física, uma espécie de Olimpíadas das Amazonas. Ela se passa em Themyscira, a ilha mágica e cidade-estado só de mulheres onde ela nasceu. É uma sequência deslumbrante de uma perspectiva técnica, com muitos feitos aparentemente impossíveis executados em grande escala, mas o que chama a atenção é o puro atletismo de uma menininha muito determinada.
“Sempre que vejo essa parte do filme, fico chorosa – tipo, muitas lágrimas de emoção“, diz Gadot (pronuncia-se “Gah-dot”), de 35 anos. “Uma das maiores coisas em que acredito é que você só pode sonhar em se tornar alguém ou algo após ver isso visualmente. E os meninos, sorte deles, puderam ver, desde o início dos filmes, que eram os protagonistas, eles eram os fortes, salvavam o dia. Mas nós não tínhamos essa representação“, diz ela. “E eu acho que isso é tão importante e, claro, é ainda mais importante para mim porque sou mãe de duas meninas, mostrar o potencial do que elas podem ser. E não significa necessariamente que elas tenham que ser atléticas ou fisicamente fortes, isso também, mas que eles podem ser marcantes.”
Ela fala sobre a necessidade de educação; ela me conta sobre “uma coisa horrível que aconteceu a uma garota de 16 anos que foi estuprada por vários homens em Israel“, na cidade turística de Eilat, no Mar Vermelho, em agosto. “Como é que havia vários homens na sala e ninguém foi tipo, ‘Ei pessoal, isso é errado, pare, alguém chame a polícia?’” ela pergunta. “Temos que servir de modelo para nossos filhos e temos que educá-los para a igualdade. Ainda há um longo caminho a percorrer porque ainda não existe uma verdadeira igualdade. Se concentrarmos nossos recursos nesse tipo de coisa, uma mudança real aconteceria.”
Ela sorri. Ela sorri muito. “Espero que não tenha sido um grande discurso“, acrescenta ela.
“Nunca conheci alguém que fosse tão abençoado com tantos dons, de beleza, inteligência e força, e fosse tão bom“, diz Patty Jenkins, diretora de Mulher-Maravilha 1984 e Mulher-Maravilha (2017), que foi o filme de maior bilheteria de uma diretora mulher, arrecadando mais de US$ 820 milhões em todo o mundo.
O sucesso do primeiro filme da Mulher-Maravilha, pelo qual Gadot recebeu apenas US$ 300.000, um valor que causou indignação em alguns círculos, já que era irrisório em comparação com o que muitas estrelas masculinas de ação levam para casa, ajudou a catapultá-la para a lista das atrizes mais bem pagas em Hollywood. Para Mulher-Maravilha 1984, ela supostamente ganhou US$ 10 milhões, uma grande soma que ainda é menos da metade do que algumas estrelas masculinas de ação ganham, mais um sinal de que em Hollywood, como em outros lugares, a disparidade salarial entre gêneros ainda tem um longo caminho a percorrer para ser igual.
“Gal é alguém cujo foco principal é fazer o bem com sua personagem e isso é uma coisa tão especial, ter uma Mulher-Maravilha como essa no papel“, diz Jenkins, que chama Gadot de sua melhor amiga. “Ela não está procurando por glória ou fama, ela está sempre perguntando: O que podemos fazer com isso que será bom para o mundo?”
Quando enviei um e-mail para Chris Pine, que interpreta o interesse amoroso da Mulher-Maravilha, o oficial de inteligência Steve Trevor, em ambos os filmes, perguntando por quê ele achava que o público abraçou tanto Gadot no papel, ele respondeu: “O que entendo da Mulher-Maravilha é que ela é o amor encarnado: feroz, forte, compassiva e durona. Essa é Gal.”
Gadot cresceu em Rosh Ha’ayin, uma pequena cidade no centro de Israel que uma amiga minha israelense descreve como sendo “um típico subúrbio de classe média da Califórnia”. Seu pai, Michael, era engenheiro, e sua mãe, Irit, era professora de ginástica que ensinou esportes a Gadot e sua irmã mais nova, Dana, insistindo que elas corressem por aí ao ar livre, em vez de ficar em casa e assistir televisão.
Você pode imaginar Gadot sendo muito parecida com aquela garotinha ativa no início de Mulher-Maravilha 1984, correndo, pulando, preparando-se física e mentalmente para seu futuro. Seu próprio atletismo pode ser visto em ambos os filmes da Mulher-Maravilha, nos quais ela realiza muitas de suas próprias acrobacias. “Tentamos evitar ao máximo usar computação gráfica nas lutas“, diz ela. Um dos momentos mais extraordinários de Mulher-Maravilha 1984 envolve uma cena em que ela luta contra vários bandidos com seu laço dourado enquanto dá um chute, jogando as costas para trás, que consegue ser durão e elegante.
Após o colegial, Gadot passou dois anos cumprindo seu serviço obrigatório nas Forças de Defesa de Israel, onde foi instrutora de preparação física e combate, antes de entrar na faculdade. (Ela tem sido frequentemente criticada por seu serviço nas FDI, bem como por uma publicação no Facebook apoiando as tropas, durante os ataques aéreos do exército israelense a Gaza em 2014.)
“Eu vim de um lar onde ser atriz nem era uma opção“, ela me conta. “Sempre adorei as artes e era dançarina e adorava cinema, mas ser atriz nunca foi discutido. Meus pais diziam, você precisa se formar na universidade e ter um diploma.” Ela planejava se tornar advogada.
Mas “dadadada“, como ela costuma dizer sempre que encobre detalhes complicados ou desnecessários (como algumas aparições em programas de TV israelenses), ela foi escalada como Gisele Yashar, a sensual especialista em armas em Velozes e Furiosos de 2009, e assim sua carreira em Hollywood começou.
“Jaron“, o marido dela, “foi quem disse: Você pode fazer o que quiser“, diz ela. “Foi ele quem realmente me deu forças para seguir este sonho.”
Gadot conheceu Varsano em um retiro de ioga e “festa muito estranha” no deserto israelense em 2006, quando ela tinha 20 e ele 30; ambos foram convidados por amigos em comum. Eles se deram bem imediatamente e começaram a namorar. “Em nosso segundo encontro, ele anunciou: Vou terminar com todas as outras garotas com quem costumo sair e vou te pedir em casamento daqui dois anos, e ele o fez – é um homem de palavra“, Gadot diz, sorrindo. Em 2008, eles se casaram em uma pequena cerimônia em Tel Aviv.
Encontrar-se com ele provou ser um momento decisivo em sua vida pessoal e, de certa forma, em sua carreira. Ela encontrou um unicórnio: um homem verdadeiramente feminista. “Somos realmente, igualmente parceiros“, diz ela. “Temos um grupo de amigos aqui e todas as esposas têm carreiras, e sempre brincamos que os maridos são o ‘novo homem’, muito envolvidos com a casa e em cuidar dos filhos e tudo mais. Jaron é literalmente o vento sob minhas asas.”
Você pode perdoá-la, talvez, por ser sentimental; afinal, ele é o tipo de cara que homenageou o Dia Internacional da Mulher, em 2018, postando no Instagram: “Tenho muita sorte de ser casado com uma mulher forte e independente. Eu aprendo com ela diariamente, ela me fortalece e me ajuda a me tornar uma versão melhor de mim mesmo. Nosso relacionamento é baseado na igualdade e respeito mútuo. Seus objetivos são tão importantes quanto os meus. Os sonhos dela são tão importantes quanto os meus.”
Mas o mais importante, de acordo com Gadot, Varsano faz o que diz. Ele a apoiou em seguir sua carreira à medida que ela crescia e exigia cada vez mais, diz ela, encorajando-a a continuar trabalhando durante a criação de duas filhas, mesmo quando ela própria ficou insegura sobre como equilibraria ser mãe e todas as suas oportunidades profissionais. Quando ela ficou ansiosa com a ideia de viajar para os sets de filmagem com Alma, sua primogênita, foi Varsano quem a tranquilizou de que tudo daria certo.
“Viajamos juntos“, diz Gadot. “Somos a família do circo. Eu amo o que faço, mas acima de tudo está a minha família e não vou viajar por longos períodos de tempo sem eles.”
Ela diz que ser mãe é “a melhor coisa que já fiz, o projeto da minha vida.” Quando pergunto que tipo de mãe ela é, ela sorri e diz: “Eu sou todos os tipos de mães. Depende de em quais dias você está perguntando. Estou muito conectada a eles e sou muito afetuosa, me certifico de manter os canais de comunicação abertos e sempre falamos sobre sentimentos e coisas assim. E, então, às vezes eu as deixo ir e não as interrompo, porque aprendi que quando se está muito envolvida, você pode realmente criar problemas. Às vezes, posso ser histérica“, diz ela. “Eu posso ser boba. Nós rimos muito. Posso ter muita paciência, mas quando a perco, não é bom.” Ela ri. “Eu acho que toda mãe pode se identificar com isso, que depois que você tem um bebê, você tem uma grande quantidade de culpa, que é algo com que estou lidando o tempo todo. Mas percebi que só posso tentar ser a melhor versão de mãe que posso ser. Então, apenas tento fazer o meu melhor e dar a elas tudo que posso.”
As filhas dela sabem que ela interpreta a Mulher-Maravilha, é claro, mas “não é grande coisa em nossa casa“, diz ela. “Eu sou a mãe que as incomoda e pede que façam coisas e as acorda de manhã. Sempre que eu ganho uma Barbie [da Mulher-Maravilha], elas ficam animadas com isso e brincam um pouco com ela, mas elas não estão obcecados com a ideia de que eu sou a Mulher-Maravilha.”
Em Mulher-Maravilha 1984, filmado em Londres, Washington, D.C. e partes da Espanha, a Mulher-Maravilha faz muito, incluindo lutar contra sua inimiga, Mulher-Leopardo, interpretada por Kristen Wiig. As personagens começam como colegas e amigas, quando a Mulher-Leopardo ainda é apenas a desajeitada geóloga Barbara Minerva, que ainda não se transformou em seu alter ego maligno. A cena em que elas se conhecem, no Smithsonian Institution, é notável pela atitude acolhedora de Diana Prince para com sua colega cientista; parece mais um momento de poder feminino, mostrando a abertura e a vulnerabilidade de Gadot na tela.
“Gal tinha um tremendo talento desde o início, mas devo dizer que suas habilidades de atuação explodiram“, diz Jenkins. “Ela é simplesmente uma das melhores atrizes que trabalham agora. Lembro-me de quando ela virou a esquina [naquela cena] e entrou, havia uma complexidade de simpatia e generosidade em seu rosto. Eu estava olhando para ela e pensando: Uau, ela é tão deslumbrante – é como se ela saísse de uma história em quadrinho, direto do papel, tipo, não dava para imaginar nada mais bonito – e ainda assim ela exala essa sabedoria complexa.”
Annette Bening, que estrela ao lado de Gadot em Morte no Nilo, dirigido por Kenneth Branagh, concorda que a atriz tem um talento de atuação inexplorado e pouco discutido. “Ela se tornou uma estrela por causa de Mulher-Maravilha, mas ela é uma atriz muito boa“, diz Bening. “Claro que a Mulher-Maravilha é muito encantadora e tem toda a força, mas Gal também possui muitas outras coisas e é capaz de fazer muitos papéis diferentes, o que tenho certeza que fará. Quando alguém é muito bonito, as pessoas muitas vezes os subestimam, especialmente quando se é uma mulher; as pessoas não conseguem conceber que elas possam ser tão inteligentes assim e ficam com inveja e são competitivas.”
“Nunca conheci alguém que fosse tão abençoado com tantos dons; de beleza, inteligência e força,” diz Patty Jenkins, “e fosse tão bom.“
Em Morte no Nilo, que estreia em dezembro, Gadot interpreta a mais glamorosa femme fatale de Agatha Christie, Linnet Ridgeway Doyle. O filme é uma fuga suntuosa, filmado na Inglaterra e no Egito. “Eles fizeram um trabalho tão bom nos cenários e nos figurinos que você literalmente se sentia como se fosse uma mulher dos anos 1940“, diz Gadot, que aparece em uma sucessão de vestidos de matar, adornados com joias.
“Sou uma pessoa sociável“, diz Gadot. “Eu posso falar com a parede. Eu quero conhecer; quero ouvir histórias. Então, para mim, trabalhar com tantas pessoas” – o grande elenco inclui Armie Hammer, Sophie Okonedo e Russel Brand – “foi maravilhoso e provavelmente ainda mais delicioso, porque as pessoas com quem trabalhei são amáveis, queridas e charmosas. E eu tinha a Annette [Bening] comigo, que eu já conhecia. Foi ela quem pressionou a mim e ao Jaron para começar nossa produtora“, que se chama Pilot Wave.
O primeiro projeto da companhia, uma série para a Apple sobre Hedy Lamarr, estrelará Gadot como a linda atriz de Hollywood e gênio científico que foi a pioneira na tecnologia que lançou as bases para o WiFi, o GPS e o Bluetooth. “Ooh, Hedy Lamarr“, diz Bening quando menciono isso a ela. “Gal é perfeita para isso.”
Linda, talentosa, abençoada com duas filhas e um marido solidário (que é parceiro dela em projetos de sucesso, como o Hotel Varsano, em Tel Aviv, que em 2015 foi vendido ao bilionário russo-israelense Roman Abramovich por US$ 25 milhões), voar pelo mundo todo, fazendo grandes filmes com outras pessoas bonitas e talentosas… A vida de Gadot parece mais do que privilegiada. E, portanto, não é uma surpresa que a Internet se voltou contra ela, depois que ela postou o infame vídeo dela e de outras celebridades cantando Imagine, de John Lennon, em março, numa época em que muitas pessoas, incluindo ela, acabavam de iniciar a quarentena devido ao COVID-19.
Certamente é difícil sobreviver ao vídeo horrível e desafinado de dois minutos que apresenta uma série de performances emocionantes de nomes como Kristen Wiig, Sarah Silverman, Natalie Portman e Will Ferrell, bem como alguns cantores de verdade como Sia e Norah Jones. E o momento realmente foi inoportuno – as pessoas estavam se sentindo desesperadas, com medo e precisando de recursos, não de celebridades cantando para elas de seus lares luxuosos.
Mas isso realmente foi motivo para o ódio que ela recebeu? Ou foi apenas a internet fazendo o que ela faz? Foi realmente merecedor do discurso que obteve no New York Times, no qual o escritor musical Jon Caramanica escreveu: “Começa depois de um monólogo breve e banal de Gadot, que pode estar presa em casa, mas cuja mente foi libertada, cara.”
Quando toco no assunto com Gadot, ela não se desculpa. “Às vezes, sabe, você tenta fazer uma boa ação e simplesmente não é a boa ação certa“, diz ela com um sorriso e um encolher de ombros. “Eu não tinha nada além de boas intenções e veio do melhor lugar, eu só queria enviar luz e amor para o mundo. Comecei com alguns amigos e depois falei com Kristen [Wiig]“, diz ela. “Kristen é como a prefeita de Hollywood.” Ela ri. “Todo mundo a ama e ela trouxe um monte de gente para a brincadeira. Mas sim, eu comecei, e só posso dizer que pretendia fazer algo bom e puro, e não deu certo.”
Sua atitude de me-aceite-como-sou é revigorante, mas me pergunto como isso funciona em Hollywood, que é famosa por ser um lugar onde as pessoas raramente dizem o que realmente pensam. “Às vezes, isso pode me causar problemas“, diz ela. “Há algo que aprendi a dizer, que é: ‘Não discordo de você, mas’, portanto, basicamente, estou discordando de você.” Ela sorri novamente. “Então eu me adaptei. Cheguei à conclusão: eu faço o que eu faço, você faz o que você faz. Eu prefiro que você não goste de mim neste momento do que não dizer a minha verdade.”
(Depois que a versão impressa desta história foi para a imprensa, a notícia de que Jenkins dirigiria Gadot em um futuro projeto de Cleópatra gerou alguma reação contra sobre o desacordo quanto a descendência da rainha egípcia. Gadot, que está no set de filmagens de um novo projeto, não foi encontrada para comentar.)
Tiro uma foto dela na minha tela para ter certeza de me lembrar de como ela estava durante nossa conversa. Nesta foto, ela está sorrindo o sorriso mais feliz que eu acho que já vi em alguém desde o início da pandemia. Eu me pergunto sobre aquele sorriso e como Gadot consegue permanecer tão feliz. Eu me pergunto se é porque ela parece tão ciente de como ela é sortuda.
A palavra sorte surge repetidamente enquanto conversamos. Gadot se sente sortuda, diz ela, por estar saudável e segura e com seus filhos durante a pandemia. Ela se sente sortuda por ter sido escalada para o papel da Mulher-Maravilha e por fazer parte desse mundo, que ela diz parecer “como se você fosse uma grande família feliz vivendo em uma comunidade; tem sido uma viagem incrível, incrível.” Ela se sente sortuda por ter Varsano como seu parceiro.
“Sou sortuda“, ela me diz. “Eu agradeço todas as manhãs. Na cultura judaica, há uma prece que você deve dizer toda vez que acordar de manhã para agradecer a Deus por, sabe, mantê-lo vivo e dadadada. Você diz ‘modeh ani’, o que significa ‘Eu dou graças’“, diz ela. “Então, todas as manhãs, acordo, saio da cama e digo: ‘Obrigada por tudo, obrigada, obrigada, obrigada, obrigada.’” Ela fecha os olhos por um momento, como se repetisse a oração novamente. “Nada deve ser considerado subestimado.“