Shiva Leilot | Uma mulher corajosa
- 10 de novembro de 2017
Gal Gadot estampa a capa da edição de dezembro da revista israelense Shiva Leilot. Na entrevista, Gal Gadot conta como quase desistiu de atuar, sobre a sua segunda gravidez, durante as gravações de Liga da Justiça e sobre o filme em si.
Uma mulher corajosa
Gal Gadot queria desistir de tudo e retornar à universidade, em Israel, mas aí veio a proposta de interpretar Mulher-Maravilha, que a tornou, da noite para o dia, na estrela mais quente do mundo. Um pouco antes da estreia de seu novo filme, Liga da Justiça, ela fala sobre a gravidez durante as gravações, o assédio sexual em Hollywood e como é ser conhecida em todo o planeta.
Por Raz Shechnik, Londres
Nem o Superman conseguiria ter passado pela fila de seguranças, assessores de imprensa, pessoal do estúdio e sabe Deus quem são todas essas pessoas que estão, no momento, ao redor da Mulher-Maravilha. Gal Gadot, não há outro jeito de dizer, não é acessível. O tanto de minutos que cada jornalista recebe, mesmo os de Israel, mesmo alguém que a conhece, é contado. Para mais algumas perguntas pelo telefone ou pelo Whatsapp, nem há o que se dizer. Sem muitas mensagens. Se em nossa entrevista anterior, cerca de um ano atrás, quando Batman v Superman estreou, ainda era possível ter uma pequena conversa com ela, agora um minuto de Gadot é medido em ouro. E cerca de 20 pessoas ao lado dela se preocupam que ninguém os desperdiçarão com besteira.
Gadot, deve-se notar, ainda é encantadora, quando você a conhece pessoalmente e não há sequer o menor nível de arrogância. Estas são as circunstâncias. E as circunstâncias são favoráveis. No último ano ela se tornou uma das maiores estrelas do mundo. Isso não é um exagero israelense, que transforma uma atriz que tem algumas falas com Tom Cruise em uma estrela que tomou Hollywood. Mulher-Maravilha, o filme que Gal Gadot estrelou, fez, como todos sabem, história. O filme mais lucrativo dirigido por uma mulher, umas das maiores bilheterias dos Estados Unidos e, também, amplamente criticado. Gadot esteve na capa de todas as revistas de respeito, apresentou o Saturday Night Live, esteve proeminente nos pôsteres, era a fantasia mais desejada da noite de Halloween e estava em cada merchandising possível. “Ela tem tudo,” disse Kelly Clarkson, a quem Gadot pode ter querido estar no lugar dela, em 2003.
Gadot, com 32 anos, talvez seja o maior trunfo da Warner Bros Studios, a mulher que vale milhões. E quando os estúdios de Hollywood querem te manter, eles te dão os melhores materiais e cuidam de você. E, no fundo, a Mulher-Maravilha, um símbolo feminista, tem que lidar com uma série de perguntas sobre o único assunto atualmente falado em Hollywood e no mundo ocidental: assédio sexual. Gadot, que ao longo dos anos se tornou uma estrela israelense com boas respostas para entrevistas americanas, deu a seguinte declaração: “A Mulher-Maravilha não permitiria que ninguém usasse as forças deles contra a vontade dela.”
É um momento simbólico para ser a Mulher-Maravilha, com histórias de assédio sexual na indústria cinematográfica surgindo todos os dias.
“Todo momento é bom o suficiente para mostrar uma mudança séria nesta questão do assédio sexual e espero que este seja realmente o começo de uma mudança. Acho que a mentalidade dos homens em posições de poder que usam o poder que têm contra as mulheres ou em geral é um comportamento que deve ser condenado e deve sumir. Acho que hoje, algo a mais acontece, há indícios de mudanças. Como mulher e como mãe de duas meninas, eu só posso apoiar e proteger essas mulheres e esperar quanto a isso, o mundo seja realmente diferente.”
Alguns anos atrás, quando Gal Gadot ainda não entendia Hollywood direito, ela contou a Yedioth Ahronoth [jornalista israelense] sobre uma experiência desagradável que ela passou no set da série Entourage. “Eu simplesmente não gostava de trabalhar com eles,” ela disse na época. “Adrian Greiner (Vince, a estrela da série) era simplesmente repulsivo. Não foi algo traumático, ou eu teria dito. Grenier tentou dar em cima de mim. Quando eu expliquei para ele que eu era casada e pedi para manter o nosso relacionamento em uma linha profissional, fui legal e sem machucar ninguém com o ego, ele se virou contra mim e começou a se comportar da maneira mais desagradável. O círculo se fechou mais tarde, quando conheci Mark Wahlberg (o produtor de Entourage), no set do filme Uma Noite Fora de Série e ele me perguntou como tinha sido no set de Entourage. Eu contei a ele o que tinha acontecido. Após isso, ele fez questão de mandar flores para o meu hotel, como desculpas. Um homem incrível.”
E quando você se lembra dessa história, hoje?
“Eu nunca passei por assédio sexual, nem lá e nem em nenhum outro set, eu tive momentos em que senti que os homens estavam se comportando de maneira inadequada. Isso não foi assédio, mas foi um comportamento inadequado no sentido de que ‘eu sou homem e você, mulher’. Para mim, não foram pêssegos e rosas no tão chamado ‘mundo dos homens’. Desde que me juntei à Mulher-Maravilha, tenho sido perguntada se eu sou feminista e eu sempre acho essa pergunta meio estranha. Toda mulher e homem deveriam ser feministas. Ou eles serão apenas machistas.”
Ezra Miller, um colega de elenco, intervém, “Espero que toda essa história de Weinstein chegue a todos os aspectos da sociedade e dos locais de trabalhos, para que essas energias sejam removidas do mundo.”
É o final da manhã em Londres e as estrelas de Liga da Justiça saem para uma foto em grupo, diante da imprensa, dos fãs e de todo o mundo do quadrinho que vê o novo filme como mais um capítulo da bíblia dele e se atém a cada detalhe da trama. Até mesmo eles parecerem começar a aceitar Gal Gadot, após a primeira rodada de queixas sobre o tamanho dos seios dela e de que sua bunda era muito pequena. “Eu expliquei a eles que se você for procurar na fonte, as amazonas tinham apenas uma mama, então qual é,” ela lembra os jornalistas britânicos, que novamente estão falando da mesma coisa.
Na equipe dos sonhos do diretor Zack Snyder, que saiu do filme por conta de circunstâncias trágicas e foi substituído por Joss Wehdon, um deles se chama Ben Affleck, um ator e cineasta com um histórico brilhante que inclui um Oscar e, ao lado dele, está Henry Cavill, o Superman. Um a um, os repórteres competem os elogios com os fãs, e as colunistas de moda gostam de falar sobre o “deslumbrando” vestido da Mulher-Maravilha.
A menina de Rosh Ha’ayin se acostumou com o status de ícone?
“Eu realmente não penso nisso, sobre as coisas grande, só estou tentando ser eu mesma, por mais cliché que seja. Toda a glória é apenas uma consequência. Eu não penso na fama, nunca trabalhei para me promover, nem mesmo no começo.“
É difícil lidar com um sucesso tão grande?
“Os anos em que eu era famosa em Israel me acostumaram a tudo isso. Agora, sinto nos Estados Unidos o mesmo que senti em Israel. Primeiro, eu era famosa apenas em Israel, agora, talvez, em todos os lugares.“
Você diz isso com indiferença. É uma coisa muito grande. A privacidade não existe mais.
“Era legal poder ir a qualquer lugar sem que eu fosse solicitada o tempo todo por fotos ou autógrafos, mas eu não desistiria disse em nenhuma circunstância.”
Miller, comenta, “Eu tenho um bom lugar para você passar férias, sem tudo isso: o Alasca”
Gadot: “Conte-me mais.”
Hoje em dia, eles também a conhecem no Alasca, mas até Mulher-Maravilha, ela tinha conseguido papéis pequenos e um com mais aparições na franquia de Velozes e Furiosos. Algo que não era suficiente para ela. “Antes de conseguir o papel de Mulher-Maravilha, eu pensei que nunca voltaria para Los Angeles,” Gal Gadot contou à revista Glamour. “Eu achei que ficaria em Israel, trabalharia como atriz aqui e ali, voltaria para a faculdade e faria outra coisa. Houveram tantas respostas negativas. Cheguei a um ponto em que eu não queria mais fazer isso. Tipo, porque estou fazendo isso, ouvindo não de novo e de novo? Eu me perguntei, ‘Para que eu sirvo?’ Aí consegui o papel de Mulher-Maravilha.”
“Zack Snyder foi o primeiro que realmente acreditou em mim e me deu uma enorme oportunidade,” ela continua. “Bem no último minuto, antes de eu jogar a toalha, ele veio com a oferta de Mulher-Maravilha, nunca esquecerei aquele momento.”
O mundo ainda está interessado na história de Miss de Gadot, que começou quando a mãe dela e uma amiga a inscreveram na competição. “Após eu perceber que estava dentro, eu disse a mim mesma que eu continuaria, não importa o que acontecesse. Eles provavelmente nos levariam para fora [do país] e eu contarei aos meus netos que a vovó participou de um concurso de beleza.”
No Miss Universo, ela estava menos colaborativa. “Eu não queria ganhar, achei que fosse muita responsabilidade para uma garota de 18, 19 anos, então eu decidi que não queria continuar com a competição, fingindo não saber inglês e usando as roupas erradas.”
Liga da Justiça, que estreia na próxima semana, continua do final de Batman v Superman: A Origem da Justiça, quando Superman morreu. Bruce Wayne, o Batman, se junta à Diana Prince, Mulher-Maravilha, para salvar o mundo dos vilões. O casal de super-heróis (com sutil alusões românticas durante a trama) juntaram-se a outros heróis da DC Comics, o Flash (Ezra Miller), Aquaman (Jason Momoa) e Cyborg (Ray Fisher). E quanto ao Superman morto? Sinto muito, sem spoilers. E sem diálogos de Tarantino, não que alguém fosse procurar por um. Parece que depois de tentar criar um filme de super-herói obscuro e cheio de reflexões filosóficas depressivas em Batman v Superman, Snyder retornou ao padrão básico da união dos aliados contra o mal onipotente de outro mundo, é claro. Diferente do filme anterior, em que as cenas de Gadot estavam aqui e ali, desta vez ela chegou como uma grande estrela, após o arrebatador sucesso de Mulher-Maravilha. Os diversos meios sabiam que os produtores de Liga da Justiça ficaram encantados com o que aconteceu com Mulher-Maravilha e quiseram aumentar o papel dela, o que necessitou de mais gravações. Gadot veio bem preparada para a pergunta. “Eu acho que isso não é verdade,” ela diz com um sorriso. “Todos nós tivemos que fazer mais gravações para aumentar o que era necessário na trama.”
Até que ponto o sucesso financeiro da Mulher-Maravilha te colocou a prova?
“Eu nunca pensei sobre a parte econômica, mas sobre como conseguir os melhores resultados e você não consegue estar menos estressada, porque o filme anterior foi assim… Você sabe que no mundo de Hollywood, você está em alta em um certo período que não vai te garantir nada do que virá. Posso dizer que o resultado do filme mostra que o mundo estava pronto para um filme de ação ser liderado por uma mulher.”
“Gal tirou a pressão de nós, vamos ser honestos,” diz Ezra Miller. “A Mulher-Maravilha salvou o mundo no filme anterior e tirou a pressão da gente desse filme, a pressão não faz bem para os atores, sabe.”
Gadot estava grávida em algumas das cenas do filme, mas o set não soube até mais tarde. “Eu não queria tratamento especial, então eu não anunciei para meus colegas que estava grávida, mas quando não houve escolha, cortamos o traje na área abdominal para que eu ficasse mais confortável, foi muito engraçado, a Mulher-MAravilha com uma barriga.”
A filha mais velha dela, Alma, recebeu um pequeno papel em Mulher-Maravilha como uma garota pobre. “É a melhor coisa que aconteceu comigo,” Gadot disse certa vez. “Mas cada vez que alguém fala comigo sobre a Mulher-Maravilha, ela toma conta da conversa completamente e diz, ‘Ouça, estávamos em Londres, foi incrível. Eu trabalhei no set, mas eu tinha uns 3 ou 4 anos, então eu não fiz todas as cenas. Eu não queria fazer, porque não queria ser famosa.”
Qual momento das gravações você não se esquecerá?
“Quando nós entramos com os nossos trajes de super-heróis pela primeira vez, eu não conseguia parar de rir, porque foi tão surreal. A gente gravara uma cena muito intensa, eu veria o traje de alguém e ria de novo.”
E qual é o seu figurino preferido no filme?
“O meu, sem dúvidas.”
Você planejou a sua segunda gravidez?
“Poderia se dizer que sim. Eu queria um momento em que eu não estivesse muito grávida para as gravações de Liga da Justiça ou para a divulgação de Mulher-Maravilha. Eu tive sorte e aconteceu assim. Eu passei pela gravidez durante as gravações do filme e não foi fácil. Enxaquecas, enjoos matinais, coisas assim, mas você se acostuma a se sentir um lixo e a gravar direito. Não há escolha nessa indústria, mas meus colegas de elenco foram maravilhosos e sensíveis e, no geral, nunca me senti tão protegida.”
De verdade, você achava que Mulher-Maravilha se sairia tão bem?
“Pareceu que Patty Jenkins (a diretora do filme) e eu estávamos fazendo algo especial. A Patty era a capitã e fazia coisas mágicas, a experiência foi muito especial. Todos no filme estavam bastante focados em criar uma atmosfera incrível durante as gravações. Fisicamente, não foi um projeto fácil de maneira alguma. Trabalhamos 6 dias por semana, por 6 meses e era um trabalho que exigia muito. Nos meus sonhos mais loucos, eu nunca imaginei que conseguiria um sucesso ou um papel tão grande ou um. Sim, durante as gravações sentimos que algo especial estava acontecendo lá. Quando eu vi parte do filme, eu senti muito orgulho e me senti muito bem em ser a Mulher-Maravilha.”
Tradução de adaptação: Gal Gadot Brasil
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