Harper’s Bazaar: Kristen Wiig numa conversa com Gal Gadot
- 22 de dezembro de 2020
Kristen Wiig, colega de elenco de Gal Gadot em Mulher-Maravilha 1984, é a capa da versão digital da revista Harper’s Bazaar UK de dezembro. A atriz e comediante foi entrevistada por, ninguém menos que, Gal Gadot. Confira a tradução desse papo animado que aconteceu através do Zoom e abordou desde a maternidade das duas atrizes até o perfeccionismo de Kristen Wiig e sua apresentação no Saturday Night Live do último domingo (20).
“Gal? Oh, eu amo a Gal, poderia falar da Gal o dia todo,” Kristen Wiig nos contou no set de sua sessão de fotos da capa digitial da Harper’s Bazaar UK no início deste mês. Na verdade, a dupla, que se enfrenta na nova sequência de filme de super-herói Mulher-Maravilha 1984, se tornaram grandes amigas. Apesar de não se conhecerem de antemão, as inimigas da telona agora se tornaram aliadas fora dela, após 8 meses de filmagens em Londres; tanto que Wiig solicitou que Gadot a entrevistasse para esta história. A dupla se conectou – como muitos de nós nos acostumamos neste ano – através do Zoom: Gal em Los Angeles e Wiig em Nova York.
A seguir, bancamos a mosca na parede durante a conversa delas, na qual elas discutem as pressões de estrelar uma franquia amada, as inseguranças que ambas vivenciam e as dificuldades de trabalhar longe dos filhos.
Gal Gadot: Oi, Kristen!
Kristen Wiig: Oi, Gal, é tão bom te ver. Obrigada por fazer isso.
GG: Onde você está agora?
KW: Estou em Nova York.
GG: Oh, é mesmo, por que?
KW: Estou me preparando para o Saturday Night Live. Eu tenho estado em quarentena e ficando um pouco louca, mas estou animada, pois verei todos – bem, algumas pessoas – hoje à noite socialmente distante.
GG: Estou pensando, quão intima devo ser com esta entrevista…? É a primeira vez que você está longe das crianças e trabalhando, deve ser difícil.
KW: Não é fácil, é muito difícil. Durante parte disso, Avi [Rothman, seu noivo] estava me enviando vídeos de quando eles nasceram e fiquei tipo, ‘Por que você está fazendo isso? Por favor, pare, você não pode enviar mais nada disso!’ Ele disse, ‘Acabei de encontrar esses.’ Eu fiquei tipo, ‘Estou longe! ‘
GG: A primeira vez que fiquei longe da Alma foi a mais difícil.
KW: É tão difícil. Existe o FaceTime, mas, você sabe, eles tem um ano.
GG: A única coisa que posso dizer é que está tudo bem, porque eles não se lembrarão de nada disso, entende o que quero dizer? Tente se esquecer disso e aproveite o sono e a experiência, porque eles não se lembrarão de quando você voltar. Eles vão ficar tipo, ‘Mamãe!’ Isso é o que me ajudou. Está piorando conforme eles crescem.
KW: Sim, eles sabem o que está acontecendo. Eles sabem que você está fazendo uma escolha quando sai.
GG: Não consigo imaginar o que significa e é necessário para ser mãe de gêmeos em 2020. Tipo, este é o primeiro ano da vida deles.
KW: A vida social deles não existe e a parte mais difícil é que eles não podem ver a família. Eles ainda não estão andando, mas estão engatinhando muito rápido. Assim que os coloco no chão, os dois seguem em direções diferentes.
GG: Quando eles acordam durante a noite, para quem você vai primeiro? É tão difícil, mas você simplesmente vai, certo?
KW: Eles dormem muito bem, na verdade, mas é muito difícil ficar longe.
GG: Tudo bem, eles não vão se lembrar e você vai mandar vídeos para eles, tudo bem. Enfim, sobre o filme! Esta experiência pela qual sou tão grata, que nos uniu. Estou tão feliz que agora tenho você em minha vida. Você se lembra da primeira vez que recebeu a ligação para o papel?
KW: Bem, foi misterioso porque recebi uma ligação do meu agente que disse: ‘A Patty Jenkins [diretora] quer falar com você, mas eles não disseram sobre o que é – eles não disseram qual é o filme ou o papel é.’ Eu fiquei tipo,’É Mulher-Maravilha?’ Eu tive que assinar um acordo de sigilo para falar com a Patty. Tive que voar para Londres para fazer um teste de câmera e ler as falas para o papel, mas não podia contar a ninguém e eu estava tão paranoica com isso. Segui as regras e disse: ‘Estou indo a Londres para uma coisa e não posso falar sobre isso e estarei de volta em alguns dias.’ Achei que a polícia da Warner Brothers viria bater na minha porta porta.
GG: É engraçado, porque sabíamos que você conseguiria o papel.
KW: Eu não! Eu estava tão estressada.
GG: Eu gostaria de conhecê-la na época. Eu teria quebrado meu acordo de sigilo para dizer que o papel era seu.
KW: Foi tão elaborado. Fiz cabelo e maquiagem, fizeram um cenário com mesinhas e até tinha uma atriz lá que parecia com você.
GG: Sério?
KW: Sim! Tive que ler toda a cena e foi muito intenso.
GG: Você já teve que fazer algo assim para um projeto diferente?
KW: Eu tive que fazer alguns testes de câmera, mas testes assim…
GG: O segredo de tudo!
KW: Não, até agora estou com medo de falar. Tenho medo de me meter em problemas.
GG: Eles não podem fazer nada agora. Qual foi a coisa que te deixou mais animada ou com medo ou pela qual você se sentiu desafiada durante este projeto?
KW: Acho que tenho uma resposta para cada uma dessas palavras. Animada: bem, pela coisa toda. Eu amei muito o primeiro [filme]. Simplesmente de arrumar minhas coisas e ir para Londres por oito meses e saber que estava trabalhando neste filme, foi um sonho de carreira para mim. Eu também estava nervosa com tudo isso, porque é um mundo tão grande no qual eu estava entrando e vocês já tinham estabelecido uma personagem e um tom tão bons. Eu apenas pensei, ‘Meu Deus, eu estarei neste filme e há tantos fãs’. Foi tão estressante.
GG: É tão engraçado, porque a perspectiva que as pessoas têm de si mesmas e, na verdade, como as pessoas as percebem… Muitas vezes há uma lacuna entre os dois. Sua personagem era tão complexa – ela passou pela maior transformação, de pura bondade para o mal mais sombrio. É engraçado para mim ver alguém tão talentosa quanto você ficar tão insegura, como eu fico o tempo todo. Enquanto isso, eu faria uma cena com você e a veria duvidar de si mesma e pensaria, ‘Não, foi perfeito pra caralho!’ Assistindo ao filme como um todo, vendo tudo se encaixar, ver você voar no que você faz… Agora falar sobre o seu nervosismo, parece tão doido, porque você foi tão boa desde o início.
KW: Obrigada, Gal.
GG: Sempre.
KW: Eu não tinha certeza do quanto de mim eu deveria colocar na primeira Barbara que conhecemos, o quão engraçada ela deveria ser como personagem.
GG: Você teve medo de torná-la engraçada?
KW: Sim, porque não queria que ela se parecesse comigo. Não estou dizendo que sou engraçada…
GG: Você é.
KW: Eu não queria que ela fosse a Kristen que as pessoas já viram. Pensei, ela não é engraçada, ela está triste. Um dia a Patty me disse: ‘Se você simplesmente se deixar levar e ser essa pessoa e ver se as coisas estranhas e engraçadas aparecem, você vai se sentir melhor’. Daí a ficha caiu.
GG: Qual foi a parte mais desafiadora desse trabalho?
KW: Provavelmente as coisas físicas.
GG: Com certeza! Não acredito que você teve que pensar nisso.
KW: A agenda era tão louca. Os dias inteiros… e vendo a agenda em que você teria quatro horas de acrobacias, coreografia e movimento, e isso depois de malhar com um treinador. Meu corpo entrou em choque no início. Eu não conseguia me mover. Eu estava hospedada em um lugar com escadas e pensei, ‘Ah, não’. Minhas pernas estavam tão doloridas. Mas quando as pessoas me perguntam sobre os aspectos gratificantes; nós superamos isso. Você e eu aparecíamos e víamos as coisas malucas que teríamos que fazer e pensávamos ‘O quê ?!’ e então faríamos. Foi tão divertido.
GG: Nesses tipos de filmes grandes, você não pode considerá-lo como um todo. É dia após dia. Não é nem mesmo um projeto de semana após semana, porque todos os dias são cheios ao máximo. Você se lembra do trabalho na água que tivemos que fazer e das alergias que surgiram em nossos rostos? Daí eles tinham que colocar leite nele e simplesmente fedia. As pessoas veem a coisa final, polida, mas tínhamos que mergulhar e você estava com frio.
KW: Eu tinha que me certificar de que eu não ia muito fundo por causa da minha sinus. Tive um resfriado muito forte e aconteceu de ser no dia em que estávamos filmando debaixo d’água e mergulhando.
GG: Londres no inverno tornava tudo mais desafiador. Todos os projetos que eu gravei foram tão exigentes, mas este é o projeto mais difícil que já fiz.
KW: Mesmo estando lá por tanto tempo… Parece glamoroso, ‘Oh, você se mudou para Londres e está morando e trabalhando lá’, mas você está deixando sua família, você está indo e levando tudo.
GG: Com seu parceiro.
KW: Sim, com seu parceiro. Existem tantos outros desafios do que simplesmente fazer um filme por oito meses. Estamos reclamando muito!
GG: Tá, vamos falar sobre as coisas boas. Vamos falar sobre o elenco e a Patty. Você ficou nervosa ao vir trabalhar conosco, depois que fizemos o primeiro filme ou ficou super confortável desde o início?
KW: Bem, acho que você sabe a resposta para isso! Eu estava assustada. Sempre que você entra em algo que já está estabelecido… e você e a Patty são tão próximas. O Chris [Pine] obviamente estava no primeiro, o Pedro [Pascal] e eu nos sentimos os novatos. Isso durou um dia.
GG: Ficamos muito felizes em ter vocês. Era como se estivéssemos juntos desde sempre. Nunca senti como se vocês fossem os novatos do grupo.
KW: Pareceu, para mim! Eu estava passando por tantas primeiras coisas, estar em uma filmagem por tanto tempo, fazendo um papel como este, fazendo todas as coisas físicas, estando nesta grande sequência de super-heróis, houve tantos primeiros que eu pensei, ‘Oh, meu Deus, o que eu faço?’ Na verdade, malhar ajudou com o estresse.
GG: E por mais que tenha sido trabalhoso, há algo incrível no fato de que trabalhamos com as melhores pessoas para estar em ótima forma. Só talvez não por quatro horas… Como foi trabalhar com a Patty?
KW: A Patty é a melhor. O relacionamento com o diretor é tão íntimo e vocês têm que falar a mesma língua. Ela sabia das minhas inseguranças sem eu nem mesmo dizer. Ela me guiou. Todas as coisas que ela me disse foram o que eu precisava ouvir; ela foi tão gentil e solidária. Nesse tipo de ambiente, você começa a assumir riscos e tentar coisas novas e é aí que fica realmente divertido.
GG: Você é fã de quadrinhos, certo? Você leu histórias em quadrinhos ou assistiu a filmes de super-heróis?
KW: Assisti aos filmes e séries de TV; a série de TV da Mulher-Maravilha,a série do Batman, os filmes originais do Superman…
GG: Qual era o seu filme de super-herói favorito quando você era mais nova?
KW: Superman com Christopher Reeve. É divertido, bobo e assustador e agora é nostálgico assistir.
GG: Sei o que você quer dizer. Como atriz, você sempre…
KW: Oh meu Deus, toda vez que eu assistia um, eu pensava, ‘Oh, isso seria tão legal!’
GG: Sério? Eu não sabia disso sobre você.
KW: Sério! Não estou brincando quando digo que isso foi um sonho para mim. Foi mesmo.
GG: Isso é incrível. Eu me pergunto se você poderia escrever um roteiro de uma super-heroína. Quão incrível ela seria? Uma super-heroína com um senso de humor muito, muito bom, isso é algo que eu nunca vi antes. Só estou jogando isso no ar…
KW: Hmmmm …
GG: Por que você acha que era importante que este filme tivesse uma diretora e o que Patty trouxe para a conversa que um homem não traria? Fui perguntada isso demais; o problema é a questão. Você acha que um diretor seria se quer perguntado: ‘Por que você acha que foi ótimo ele ter feito Batman e o que ele trouxe ao filme que uma mulher não conseguiria ter trazido?’
KW: A indústria está mudando lentamente e há mais oportunidades e elas chegam com essas perguntas, separando o feminino do masculino e tornando isso um problema. Estou lhe dizendo, o termo ‘comédia feminina’ me faz querer explodir.
GG: E o que isso se quer significa?
KW: Bem, não há comédia masculina.
GG: Qual é a diferença? Você sente mudanças na indústria como escritora e atriz ou ainda está muito lenta? Para mim, ser feminista é salário igual, oportunidades iguais.
KW: Acho que ainda não chegamos lá. Como eu disse, está mudando, mas não no ritmo que acho que deveria.
GG: Não no ritmo que você gostaria. Me pergunto quanto tempo vai demorar, e o que e se o impacto desse tipo de filme, Mulher Maravilha e até Missão Madrinha de Casamento, terá nesse ritmo.
KW: Eles têm um impacto, desde que os mantenhamos na mesma categoria, de modo que nem sempre é um filme de super-heroína ou uma comédia feminina. Em última análise, trata-se de um herói de quadrinhos.
GG: Estou com você. De volta ao filme, você realmente mostrou a humanidade da sua personagem como um vilã. Por que isso foi importante para você?
KW: Sinceramente, isso estava no roteiro e nas conversas com a Patty, o conflito que o público sente junto com Diana: eu gosto dessa pessoa, mas sei que ela é má. É uma pergunta interessante para se perguntar: esta é uma pessoa boa que se tornou má ou é uma pessoa má que finalmente se revelou? Era uma maneira diferente de ver uma vilã. No início, a Diana não se conecta com as pessoas… como a Barbara pode ser essa pessoa com quem ela está disposta a se arriscar e fazer amizade? Mostra que o calor era importante para isso.
GG: O que você mais gosta na Mulher-Leopardo?
KW: A cauda. Não, eu gosto que ela ainda esteja lá; você ainda a vê. Há uma cena em que Diana está conversando com a Bárbara, embora ela seja a Mulher-Leopardo e você ainda vê essa luta. Eu gosto que não seja preto e branco.
GG: Você a tornou complexa e com quem podemos nos identificar. Podemos ser Barbara.
KW: Todos nós temos um pouco de Barbara em nós.
GG: O que te empodera, Kristen?
KW: Essa é uma boa pergunta. Ser mãe me empodera demais. Completar algo que você estava com muito medo de fazer, ficar nervoso para fazer algo e então aquela sensação que você tem quando faz. Espero ter essa sensação no domingo, após o SNL. Sempre fico nervosa de fazer isso.
GG: Lá vem você de novo! É por isso que você é tão talentosa, você está sempre procurando e nunca pensa: ‘É isso, eu descobri’. Mesmo que você tenha feito parte do SNL por tantos anos! De toda a população do universo, eu teria pensado que você ficaria relaxada em aparecer nele. Mas não, você é uma perfeccionista e tanto e se preocupa muito e está sempre procurando a melhor coisa para dar, você é incrível. Esta é uma boa pergunta para terminar.
KW: Muito obrigada por fazer isso por mim. Você fez isso como um favor e como uma amiga e eu agradeço muito isso.
GG: Você é minha amiga e eu te amo. Foi bom se conectar e fazer algo legal no Zoom.