Gal Gadot é capa da edição de setembro da revista Rolling Stone

  • 25 de agosto de 2017

Gal Gadot realmente está trilhando o seu caminho para o estrelato. Se não bastasse o enorme sucesso de Mulher-Maravilha, que atingiu a marca de mais de 800 milhões de dólares de arrecadação no mundo todo este semana e já conseguiu mais de 403 milhões de dólares nos Estados Unidos, fazendo deste o maior filme de origem de super-herói, a atriz estampa a capa da edição de setembro de uma das mais conhecidas revistas norte-americanas: a Rolling Stone.

Confira as fotos, bem como a tradução da matéria feita pela nossa equipe.

Gal Gadot sobre se tornar a Mulher-Maravilha, a maior heroína de ação do ano

A ex-instrutora de combate israelense e ex-vencedora de concurso de beleza havia desistido de atuar quando conseguiu o papel de sua vida

A Mulher-Maravilha em pessoa está prestes a abençoar o meu filho que está para nascer. “Posso?” ela pergunta, antes de acomodar seus longos dedos pela minha barriga de grávida. As mãos dela são calorosas e maternais. Ela segura o meu olhar, inabalável. “Menino ou menina?” ela pergunta. “Menina,” eu digo a ela. O sorriso dela se abre. “Ser mulher é uma força,” ela diz. “De muitas maneiras.

Curiosamente, isso não é um sonho; é um almoço no Chateau Marmont. Aparentemente, Gal Gadot está aqui para falar sobre a sua ascensão de uma quase desconhecida para um símbolo icônico e mundial de tudo o que é bom e poderoso, como a primeira encarnação em filme da Mulher-Maravilha. Mas é difícil não ver os elementos da super-heroína em como ela é. Não importa que ela acordou às 5 da manhã com uma bebê de quatro meses (“Cara, é exaustivo, mas é o melhor“); pessoalmente, a aura dela paira em algum lugar entre mãe natureza e glamazona (amazona com glamour). O sotaque dela é digno de Bond e é encoberto pela rouquidão de sua voz. A atuação dela de Mulher-Maravilha, tão convincente, incorpora tanto a dureza quanto a decência esmagadora da personagem, que ela deve ser uma rejeição ambulante da misoginia da Era Trump – tanto é que, segundo as notícias, não foi difícil ver mulheres chorando abertamente nos cinemas, enquanto a assistiam na tela. A maioria do mundo pode não saber como pronunciar o nome dela (é “gádôt”, não “gadô”), mas Gadot mal pode se incomodar com preocupações tão fúteis. “Eu gosto quando está calmo e há um tipo de atmosfera harmoniosa,” ela me diz. E mais tarde: “Você deve encontrar o seu lugar neutro com você.” Na presença dela, essas coisas são possíveis, até  prováveis.

Ou, pelo menos, se você é ela. Veja o modo como ela desdenha dos do contra que questionaram a Mulher-Maravilha, um tesouro nacional (elogiado pelo Smithsonian como um dos “101 Objetos Que Fizeram a América”), ser interpretada por uma israelense: “Ai, meu Deus, sério, pessoal?” (O filme foi banido em diversos países árabes pelo mesmo motivo.) Ou como ela dissipou as queixas por toda a internet sobre o tamanho dos seios dela, com o mordaz conhecimento de que, ao invés de ter proporções de pinup, a Mulher-Maravilha teria, historicamente, cortado um de seus seios fora: “Eu disse a eles, ‘Ouçam, se vocês querem ser verdadeiros, então as Amazonas, elas tinham apenas um seio. Exatamente um seio. Então do que vocês estão falando? De eu ter peitos pequenos e bunda pequena? Isso vai fazer toda a diferença.'” Ou o modo como ela desbravou o inverno de Londres, gravando 12 horas por dia, seis dias por semana, em nada além do que um colante e braçadeiras de metal. Ou, o mais impressionante, como ela filmou as regravações de Mulher-Maravilha e o próximo filme da franquia da DC Comics (Liga da Justiça, com lançamento em novembro), enquanto estava grávida de sua segunda filha, maldito enjoo matinal. “Nós cortamos o traje e tinha uma tela verde no meu estômago,” ela diz. “Foi muito engraçado, a Mulher-Maravilha com uma barriga.

Na verdade, a barriga de Gadot foi só uma das complicações que afligiu a equipe da produção de Liga da Justiça. Após uma tragédia familiar, o diretor Zack Snyder demitiu-se, deixando o filme nas mãos de Joss Whedon, de Os Vingadores, e os rumores de uma vasta revisão foram confirmados, quando o colega de elenco Ben Affleck descreveu o resultado como “um produto interessante de dois diretores.” Mas, como sempre, Gadot não acredita na controvérsia. “Olha,“, ela diz. “Joss, ao meu entendimento, foi a escolha de Zack para finalizar o filme. E o tom não pode ser completamente diferente, pois o filme já havia sido gravado. Joss está apenas ajudando.

É, em parte, a calmaria natural de Gadot que ajudou Mulher-Maravilha a superar as expectativas mais loucas de qualquer pessoa, e também de, quase sozinha, salvar o popular universo da DC Comics. Até o momento, o filme ganhou mais de 400 milhões de dólares no mercado interno e está próximo dos 800 milhões de dólares em todo o mundo. Atualmente, ele é o filme de ação com a maior bilheteria já dirigido por uma mulher. Em outras palavras, o filme detonou, no estilo Mulher-Maravilha. “Isso só mostra que o mundo estava pronto para um filme de ação dirigido por uma mulher,” diz Gadot. E mesmo que não estivesse, ela se certificou de que agora está.

Conseguir um papel principal em uma franquia com grandes expectativas, gerando diversos outros produtos ou filmes, teria sido uma conquista para qualquer ator novo, claro. “Quando você é um iniciante, você se anima em ter um trabalho,” diz Gadot. “Era onde eu estava.” Mas Mulher-Maravilha não era qualquer papel principal. Era um papel que as feministas esperavam há muito tempo – enquanto todos os grande super-heróis foram apresentados em histórias e sequências em abundância – e com uma história que ia muito além do mero simbolismo de uma super-heroína. Após ter sido escolhida, Gadot voltou-se para os arquivos da Warner Bros. para ler as histórias em quadrinhos originais e logo descobriu que a Mulher-Maravilha era fruto de William Marston, um psicólogo que não só ajudou a criar o detector de mentiras e vivia em uma casa poli amorosa, com a esposa dele (que ele conheceu no ensino médio), a namorada dele (que havia sido a sua aluna) e seus quatro filhos (dois de cada mulher), mas que também acreditava que as mulheres não eram apenas iguais aos homens, mas provavelmente superiores. “Francamente, a Mulher-Maravilha é uma propaganda psicológica para o novo tipo de mulher que deveria, acredito eu, dominar o mundo,” ele diz em A História Secreta da Mulher-Maravilha, de Jill Lepore. E como Lepore ressalta, “Na primeira história, a Mulher-Maravilha vem aos Estados Unidos para lutar pelos direitos das mulheres, pois este é o último bastião de possibilidade de direitos iguais para as mulheres“.

Nada dessa história foi esquecida por Gadot. “As pessoas sempre me perguntam, ‘Você é feminista?’ E eu acho essa pergunta surpreendente, pois eu penso, ‘Sim, claro. Toda mulher, todo homem, todos deveriam ser feminista. Pois qualquer um que não seja feminista é sexista.’” Ela sustenta que ela e a irmã mais nova dela foram ensinadas “a acreditar que somos capazes, a nos valorizar” enquanto elas cresciam em Rosh Ha’ayin, uma pequena cidade no centro de Israel, onde o pai delas trabalhava como engenheiro e a mãe delas, como professora de educação física. “Eu tive um tipo de vida muito protegida,” Gadot diz. “Não assistíamos TV. Era sempre ‘Pegue uma bola e vá brincar.” O que lhe serviu bem. “No geral, eu era uma boa menina, uma boa aluna, era educada e era uma Maria Moleque. Sempre com machucados e joelhos esfolados.

Apesar dessas marcas, Gadot havia recebido ofertas para modelar, mas optou por trabalhar no Burger King. “Eu fiquei tipo, ‘Posar por dinheiro? Ugh, isso não é para mim.’” Mas nos poucos meses livres que ela teve entre se formar no ensino médio e servir seus dois anos obrigatórios nas Forças de Defesa de Israel, a mãe dela e uma amiga inscreveram ela no concurso de Miss Israel. Quando ela descobriu que ela foi aceita, “Eu falei para mim mesma, ‘Eu vou apenas fazer isso. Eles vão nos levar para a Europa, vou contar para os meus netos que a vovó fez essa coisa de Miss Israel.’ Mal sabia eu que eu ganharia.” Ou que ganhar a levaria ao concurso do Miss Universo (“É engraçado agora que eu falo isso. Parece bizarro, como uma vida diferente.“), o que a assustou completamente. “Eu sabia que eu não queria ganhar o Miss Universo. Não era para mim. Para uma pessoa de 18 anos, parecia muita responsabilidade.” Então ela decidiu deliberadamente perder a competição, fingindo que ela não falava inglês, vestindo as roupas erradas. Ela nem chegou ao top 20. “Eu perdi muito,” ela declara alegremente. “Eu triunfantemente perdi.”

Quando o reinado inesperado dela de Miss Israel acabou, ela foi designada a ser uma treinadora de combate nas FDI, comparecendo diariamente às 5 da manhã para colocar os soldados em uma espécie de campo de treinamento. Enquanto ainda servia, ela conheceu o desenvolvedor imobiliário Yaron Versano nessa “festa no deserto que era toda sobre os chacras, blá, blá, blá,” e aí casou com ele, foi para a faculdade de direito (“Porque eu sou muito profunda e eu amava Ally McBeal“), e achou que ela havia encerrado uma carreira que dependia da aparência dela, quando o diretor de elenco pediu que ela fizesse um teste para ser uma Bond girl. “Eu falei para o meu agente, ‘Do que você está falando? Estou na faculdade. Não sou uma atriz. Eu não vou.‘ E ele foi, ‘Apenas mostre respeito e vá.’” Esse teste, por fim, a levou ao seu papel de Velozes e Furiosos, o que levou à Mulher-Maravilha, apesar de que em seu primeiro teste para o filme, ela nem havia sido informada qual era o papel que ela estava tentando. “Zack [Snyder] me ligou e falou, ‘Então, você para o que você está fazendo o teste?’ Eu disse, ‘Não.’ Ele disse, ‘Bem, não sei se vocês têm ela em Israel, mas você já ouviu sobre a Mulher-Maravilha?’

Acontece que eles tinham ela em Israel e Gadot imediatamente percebeu a oportunidade que estava lhe sendo dada, tanto como atriz como como feminista. “Eu tive os meus momentos em que senti que os homens não estavam se comportando – [não foi] nada sexual, mas inapropriados de uma maneira sexista. Desdenhoso. A vida nem sempre foi cor-de-rosa e fácil para mim como uma mulher no mundo.” Mesmo depois de ela conseguir o papel, ela estava preocupada em ser considerada fraca, então ela esperou para contar aos seus colegas de elenco de Liga da Justiça que ela estava grávida. “Eu não queria a atenção,” ela diz. “O padrão deveria ser que as mulheres façam o trabalho, mas há um longo caminho a se percorrer e muita reprogramação que precisa ser feita para ambos os sexos.

Não foi irrelevante que a Mulher-Maravilha – quem, Gal Gadot diz, “representa o amor, a esperança, a aceitação e o combate ao mal” – estreou em 1941, ano em que a América entrou na Segunda Guerra Mundial. Enquanto o pai de Gadot é um israelita de sexta geração, a mãe da mãe dela escapou da Europa pouco antes da guerra. O pai da mãe dela, que tinha 13 anos quando os Nazistas chegaram ao seu país natal, Tchecoslováquia, não teve tanta sorte. O pai dele morreu no exército. O resto da família dele foi enviado à Auschwitz, onde a mãe dele e o irmão dele morreram na câmara de gás. Após a guerra, ele foi para Israel sozinho. “A família toda dele foi assassinada – é inimaginável,” diz Gadot. “Ele me influenciou muito. Após todos os horrores que ele viu, ele era como um pássaro danificado, mas ele sempre tinha esperança e era positivo, cheio de amor. Se eu tivesse sido criada em um local onde esses valores não fossem tão fortes, as coisas seriam diferentes. Mas foi muito fácil para mim me identificar com tudo o que a Mulher-Maravilha representa.

Agora, Mulher-Maravilha era a história de Gadot para ser contada e ela e a diretora Patty Jenkins estavam obcecadas em fazê-la direito. “Foi quase emocional, pois estávamos tão unidas em nosso desejo de fazer algo tão delicioso que as pessoas não se importassem, também, em falar sobre essa questão mais profunda,” diz Jenkins. Gadot tinha treinado por oito meses para ganhar músculo – “Força não é algo que você pode fingir” – mas ela também sentiu que a abordagem mais feminista seria que a Mulher-Maravilha continuasse feminina, fosse forte por, não apesar de, ser mulher. “Eu não queria interpretar a guerreira de coração frio. Não queríamos cair nos clichês.” Em vez disso, ela e Jenkins pensaram muito sobre como uma mulher criada apenar por mulheres responderia quando mergulhada em um mundo dominado pelos homens.

O resultado é uma espécie de feminismo inocente que parece acidental exatamente porque é tudo, menos isso. “Não quisemos tratar a misoginia de uma maneira que fosse um sermão,” Gadot diz. “Queríamos surpreender o público.” Então, quando a Mulher-Maravilha não pode estar em uma reunião do conselho de guerra que é, basicamente, a versão eduardiana do clube do bolinha, ela não se irrita; ela fica simplesmente perplexa. Da mesma maneira, quando ela vê um bebê na rua, ela não hesita em bajulá-lo (“Um bebê!“). “Queríamos trazer alguma ingenuidade,” Gadot diz. “Sendo mãe de duas garotas, eu fico tipo, ‘Precisamos de mais ingenuidade. Todo mundo só pensa no seu.’” O resultado é o retrato de uma mulher na tela sem um pingo de insegurança, uma mulher que nunca questiona seus próprios impulsos, de “gênero” ou não.

O que nem Gadot e nem Jenkins poderiam prever é como as suas cuidadosas discussões ressoariam. “Mesmo em algumas exibições testes iniciais, as mulheres vinham até mim depois e diziam, ‘Eu sinto que você fez esse filme para mim!’” diz Jenkins. “Mas não foi até a segunda semana que o movimento começou, as pessoas iam diversas vezes e levavam as suas amigas e avós, as fotos eram enviadas para mim, de uma mulher de 90 anos sendo conduzida de cadeira de rodas. Tudo isso foi absolutamente impressionante de se ver.” Gadot concorda. “Definitivamente, acho que 75 anos é um longo período para essa personagem não ter um filme, mas é loucuraaaaaaa,” ela fala sobre a recepção do filme, sobre todas as exibições inteiramente femininas realizadas ao redor do país, dos meninos da escola chegando para a aula com uma mochila da Mulher-Maravilha e do papel dela em tudo isso.

E agora, enquanto a loucura em torno dela e de Mulher-Maravilha 2 aumenta e, sem dúvida, aparece no horizonte, Gadot usa os seus formidáveis poderes para manter as coisas Zen. Ela e a família dela se mudaram recentemente para L.A., onde sua filha de 5 anos está começando a escola. “Eu vou buscá-la,” diz Gadot sobre os seus planos para a tarde. “Então eu vou voltar para a casa para a bebê, tem um dia relaxante.” Talvez ela faça um pequeno jantar (“Eu adoro cozinhar comida italiana. É fácil.“), colocar uma música (“Zero 7, porque é muito relaxante.“), se deleitar com os “momentos realmente simples“, ela diz, são as coisas que ela gosta de fazer. Em busca de tudo isso, ela levanta todo o seu 1,78m de altura para ir embora. Então, ela faz uma pausa. “Vai ser ótimo,” ela diz, olhando para a minha barriga. Nesse momento, sim, tudo parece que será maravilhoso.

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