Walla: ‘Eu havia desistido dos EUA e talvez da minha carreira, daí veio a Mulher-Maravilha’

  • 14 de maio de 2021

Na última sexta-feira (07), Mulher-Maravilha 1984 finalmente estrou nos cinemas de Israel. Para divulgar o filme em sua terra Natal, Gal Gadot conversou com a Walla sobre como a super-heroína salvou sua carreira em Hollywood, falou sobre os adiamentos e da saudade constante de Israel. Ela também conta que apesar das críticas, não se arrepende de sua versão de Imagine.

Gal Gadot atualmente é um dos nomes mais famosos em Hollywood e você não precisa ser patriota para saber disso. Não se passa um mês sem que falemos de novos projetos dela: recentemente, por exemplo, ela produziu uma série documental chamada Impact (em breve em Israel) e, imediatamente na sequência, um anúncio foi feito sobre um filme de ficção científica estrelado e produzido por ela. Ela será vista em breve em dois outros filmes Morte no Nilo (talvez nos cinemas) e Alerta Vermelho (provavelmente apenas na Netflix) e, então, sua maior produção até agora, Cleópatra, um épico de sua iniciativa, no qual ela também estrelará no papel principal.

Mas no final da última década, o cenário era o oposto. Gadot deu seus primeiros passos em Hollywood e até conseguiu participação no sucesso de bilheteria da franquia Velozes & Furiosos, mas sua carreira não avançou no ritmo esperado e sua revelação foi adiada. “Já era demais para mim e eu não queria arrastar a família [para lá e para cá] o tempo todo,” ela diz em uma entrevista especial à Walla! Culture. “Eu não tinha certeza se continuaria com o meu ‘caso’ com os Estados Unidos e estava pensando em retornar para Israel, mas daí fui aceita como Mulher-Maravilha. Sem isso, eu provavelmente não teria tido uma carreira internacional e, na verdade, talvez nem tivesse tido uma carreira de atriz. Talvez eu tivesse feito algo na TV, mas não tenho certeza de que eu teria continuado como atriz.

Muitas atrizes de todo o mundo competiram pelo papel, mas Gadot o ganhou e junto com a diretora Patty Jenkins fez Mulher-Maravilha, um fenômeno cultural – um grande sucesso de bilheteria, pelo mundo e especialmente em Israel. Gravado como o primeiro sucesso estrelando uma super-heroína, ele mudou ligeiramente as regras do gênero em Hollywood e transformou a personagem e a estrela em ícones.

Tudo aconteceu no verão de 2018, quando as máscaras ainda eram algo que só heróis e heroínas usavam, e não um item necessário para cada um de nós. Após o sucesso estonteante, uma sequência chamada Mulher-Maravilha 1984 foi produzida. O filme deveria ter sido lançado no último verão, mas foi adiado independentemente do novo Corona vírus. A partir daí, ele foi adiado repetidas vezes por conta da pandemia.

Nos Estados Unidos, o estúdio Warner tomou a decisão sem precedentes de distribuir o filme no último Natal em duas plataformas: nos poucos cinemas que estavam abertos na época nos EUA e seu serviço de streaming, e deve-se notar que o filme não foi particularmente bem sucedido. Houve países, a França por exemplo, onde ele foi lançado diretamente em cópias físicas e aqui, a terra natal de Gadot, a promessa de estreia durou cerca de cinco meses.

Apenas nas semanas seguintes, quando os cinemas finalmente reabrirem após quase um ano e meio, o filme estreará lá também, o que fará de Israel o último país onde ele estará disponível. Como se diz? Pessoas de todo o mundo nos ligam perguntando como fazemos.

Gadot chegou a Mulher-Maravilha 1984 de um lugar completamente diferente de onde ela estava, antes do primeiro filme e, claro, sua experiência com ele é diferente. “A primeira vez que assisti a cópia de Mulher-Maravilha 1984, eu não parava de tremer com a adrenalina e a emoção, mas na segunda vez eu já sentia a diferença, eu tinha muito mais críticas,” ela disse na ligação via Zoom que tivemos há alguns meses, quando o filme foi lançado nos Estados Unidos. “Desta vez, eu também assumi o papel de produtora e estava mais envolvida em todos os estágios, o que deixou isso mais fácil para mim, pois criou uma distração e eu olhei para mim profissionalmente. Se ver na tela é sempre estranho. Você honestamente diz para si mesma, ‘Eu deveria ter abordado isso diferente, prestado atenção nas anotações.

Como assim?

Sabe, eu digo para mim mesma, ‘Eu deveria ter sido mais assim ou interpretado isso diferente. Você sempre nota o que não deu certo para você.

Como o próprio nome indica, o filme se passa em 1984, um ano antes do nascimento de Gadot. Eu pergunto a ela o que seus pais me diriam se eu perguntasse que tipo de filha ela foi. “Eu fui uma garota boa, que realmente gostava de comer e adorava demais atenção e companhia,” ela diz. “Eu adorava estar no centro. Pelo menos, isso é o que a minha família e pais dizem.

Eu pergunto a Gadot se, assim como no filme, há alguém que ela tenha inveja ou que ela queira ser. “Não, eu não tenho esse desejo e quase nunca tive,” diz a atriz, mãe de duas filhas e que está no meio de sua terceira gravidez. “Quando eu era pequena, na idade que você começa a ficar com inveja, eu sempre reclamava ‘por quê essa menina tem isso e essa outra menina tem isso.’ Meus pais me disseram algo de que nunca vou me esquecer, ‘Seja um cavalo e apenas olhe para o seu caminho.’ Eles explicaram para mim que se você quer ser como outra pessoa, você deve aceitar a coisa toda e cada um tem a sua própria história. Esta tem pais divorciados e aquela algo diferente. Em resumo, eles me explicaram que é melhor olhar para o meu caminho e apenas seguir, então é o que faço.

Eu precisava desse conselho, pois o nosso campo é cheio de rejeição, e é uma rejeição muito pessoal, pois te dizem que você não é boa o suficiente para interpretar uma personagem. Isso me ajudou muito durante a época em que eu estava fazendo audições completas e não sendo aceita, porque graças ao que meus pais me ensinaram, eu sabia como lidar com isso de uma forma relativamente saudável e sem surtar.

O filme fala sobre a necessidade de se ter cuidado com os desejos, porque até as coisas boas têm um preço. Que preço você pagou pelo seu sucesso?

Todo sucesso tem um preço e ele está no tamanho do sucesso. Amo muito o meu país, mas estamos morando longe há anos, e para mim esse é um preço muito alto. Estou em constante saudade de Israel, da minha família e meus amigos e isso com certeza é um preço que estamos pagando.

Quando você fala inglês, você sente que é uma Gal diferente?

Não sou outra Gal, mas não sou a Gal até o fim. Em hebraico, eu domino todo o espectro. Todo o vocabulário está a minha disposição e eu simplesmente escolho [as palavras]. Em inglês, acho que não consigo encontrar todas as palavras para me expressar da maneira que gostaria.

Qual palavra hebraica você mais sente falta em inglês?

Encorajar. (לפרגן)

Você se sente apoiada?

Eu sinto que estou em um bom lugar. Me sinto apoiada e isso está claro para mim.

Usarei isso para perguntar uma pergunta menos complacente, fiz uma crítica positiva sobre você no Facebook, após assistir o filme, e algumas pessoas responderam dizendo “Você está certo, ela é perfeita, exceto pelo cover de Imagine.

Minha intenção foi boa. Não fiz para causar. Kristen Wiig é a pessoa mais popular daqui e ela chamou todos os seus conhecidos para fazermos isso juntos e o que saiu, saiu. E não foi bem recebido. Não me arrependo, porque vem de um lugar meu real. Quem não gosta, não gosta, mas não quero estar em um lugar de dar sermão, quero dizer a minha verdade, mesmo que pareça cafona para as pessoas ou fora de lugar. Tive as melhores intenções.

E por falar em música, como convém ao ano em que se passa, Mulher-Maravilha 1984 tem trilha sonora dos anos oitenta. Qual é a sua música favorita desta década?

Para mim, é a melhor década que a música já teve. Qual é a minha favorita? É difícil para mim escolher. Talvez ‘Purple Rain‘ do Prince.

No Líbano, como no resto do mundo, os quadrinhos são amados, mas porque você é israelense e foi soldado das FDI, os filmes da Mulher-Maravilha não são distribuídos.

E é uma pena, mas não posso controlar isso. Fazemos o filme para todos e é importante para nós que ele fale com todos e seja universal, que tenha uma mensagem e seja uma fonte de inspiração para as pessoas. Além disso, é o tipo de coisa sobre a qual não tenho controle.

Claro, o terceiro filme já está em andamento, talvez desta vez a Mulher-Maravilha entre em cena para resolver a situação política em Israel?

Totalmente. É horrível o que está acontecendo, se tornou padrão.

Para voltar ao início, se você não fosse atriz, o que seria?

Duas opções: Consultora Jurídica, porque sempre me pareceu algo inteligente, adorava Ally McBeal e comecei a estudar direito ou teria me tornado uma doula. É mágico para mim poder ajudar uma mulher em seu momento mais emocionante.